GLOSANDO A POETISA MARIA DA ENCARNAÇÃO ALEXANDRE - Mãos
DEI VOZ ÀS MINHAS MÃOS
Dei voz às minhas mãos num fim de tarde
Quando o sol ao cair no azul do mar
Parece que se ateia e depois arde
Nas águas onde prendo o meu olhar
Vestiram gestos mansos sem alarde
E falando ao teu corpo devagar
Numa voz calma quase que cobarde
Por ele se deixaram encantar
Libertados que foram os seus medos
Sussurraram palavras e segredos
Bailando no silêncio da atmosfera
Já no horizonte o céu enegrecia
Porquanto o sol ali se despedia
Calou-se então a voz que às mãos eu dera
MEA
2/10/2017
A CAMINHO DO INEVITÁVEL FIM DE TARDE
Por muito que adiasse a voz crescente,
por muito que, hoje ainda, eu a resguarde,
a voz do sonho ousou passar-me à frente,
“Dei voz às minhas mãos num fim de tarde”
E nunca mais, de mim, tornada ausente,
que a voz das minhas mãos não mais retarde
palavras mil, que tão precocemente
“Vestiram gestos brandos sem alarde”
Livres do pseudo-sonho que os tolhia
enquanto, passo a passo, eu mal crescia,
“Libertados que foram os seus medos”,
Deixaram de iludir-se. São brinquedos,
ilusões de uma infância. Mal nascia,
“Já no horizonte o céu enegrecia”.
Maria João Brito de Sousa -04.10.2017 – 11.01h