17
Mai17
DO FUNDO DE MIM
Maria João Brito de Sousa
Mais fundo, neste poço tão sem fundo,
Mergulho a cada dia em que não vivo
E sinto-me, no fundo, um ser cativo
Que vai dizendo adeus à vida, ao mundo.
Perdida da palavra – e nela abundo… -,
De quanta poesia hoje me privo,
Resta-me este mal estranho, consumptivo,
Voraz, perverso, vil, nauseabundo…
E sonhei eu escrever até ao fim,
Quando, afinal, a morte chega assim,
Pé-ante-pé, esmagando a pouco e pouco
Os frutos que medravam no jardim
Que andava a cultivar dentro de mim,
Em vez de, abrupta, desferir-me um soco.
Maria João Brito de Sousa – 17.05.2017 – 11.57h
Imagem - Tela de Oscar F. Bluemner