NOUTRO DIA QUALQUER II
(Soneto em decassílabo heróico)
Noutro dia qualquer talvez vos diga
Das razões de um poema aprisionado
Na trincheira do sonho em que se abriga
Quando se sente vão, velho e cansado...
Mistérios do poema. Quem lhes liga?
Quem pode convencê-lo a ser cantado
Se em silêncio se escapa da cantiga
E teima em se manter distanciado?
Mas, duma fresta aberta em musa antiga,
Sempre posso espreitá-lo e, com cuidado,
Confessar-lhe esta inércia a que me obriga,
Mostrar-lhe que escolheu caminho errado
(neste vislumbre, aquilo que me intriga,
é vê-lo, embora vivo, assim, calado...)
Maria João Brito de Sousa – 03.10.2014 – 21.21h
Imagem - Azenhas, Amadeo de Sousa Cardoso