SÁBADO, DOMINGO E SEGUNDA FEIRA XXIV
MISTÉRIOS DE TODAS AS POÉTICAS
Há gotas de suor nos meus sonetos,
Jorrando de outros poros, porque os meus
Não podem entender tantos dialectos
E portam-se, por vezes, como ateus
Que pasmam só de olhar os riscos pretos
Feitos – quem sabe… - pela mão de Deus,
Destes grafismos estáticos, erectos,
Que descrevem o Mar, a Terra, os Céus…
Inunda-me, o poema, o corpo inteiro,
Escorrendo como a tinta de um tinteiro
Que outro alguém, derrubando, não quisesse
Aceitar nas palavras que eu emprego
E, à pressa, derramasse um grito negro
Sobre o que eu escreveria… se pudesse.
Maria João Brito de Sousa – 18.12.2010 – 18.36h
CONDICIONALISMOS, COMODISMOS E RECEIOS, S.A.
Eu cantaria a rosa que há em mim,
Mas posso muito bem vir-me a esquecer,
Ou mesmo perguntar-me, até ao fim:
- Se um espinho me picar, irá doer?
Eu cantaria as ervas de um jardim
Até o mundo olhar e entender
Mistérios numa haste de alecrim...
Mas se ele for cego e nunca o puder ver?
Há preconceitos e receiozinhos
Que vão atando as mãos da minha voz
E que me vão deixando assim, perdida
Na conjectura de actos comezinhos…
Ficam flores e jardins muito mais sós
E assim se vão as horas de uma vida.
Maria João Brito de Sousa – 15.12.2010 – 19.19h
NATAL - Amor, simbolismos e metáforas
Tão leve é o seu jugo… e já chegou
O tempo de afastar toda a cegueira
Porque o Tempo cresceu, tudo mudou,
Mas nunca foi Natal na Terra inteira.
Tão suave a sua carga… e demorou,
Como qualquer terrena sementeira,
O tempo necessário, o que bastou,
Pra dar vida ao escondido na poeira.
Tão ínfimo e tão grande! Que pesada
A mão que desferiu a chicotada,
Qual célula a cumprir suas funções
Em troca do perdão, na consoada,
Escolhe nascer na mesma humana estrada
Em que, ao morrer, reinou sobre as paixões.
Maria João Brito de Sousa– 16.12.2010 - 19.25h