SÁBADO, DOMINGO E SEGUNDA FEIRA XX
UM LEITO NA FLORESTA
(Soneto em decassílabo heróico)
Nesta quase-cidade adormecida
Onde os prédios, de pálpebras cerradas,
Choram gatos em cio, cumprindo a vida
Junto às ocasionais águas-furtadas,
Mora um estranho silêncio que, à partida,
Me embebeda de lua e madrugadas,
Mas, depois, me interpela: - “Alma perdida,
Porque sonhas Floresta, olhando estradas?
E porque te deténs sobre o cimento
Quando um choupo te aguarda e já sedento,
Te estende os velhos ramos descarnados?
Porque razão paraste e já não corres?
Não saberás que assim que páras, morres,
Sem ter`s justificado os passos dados?”
Maria João Brito de Sousa – 22.10.2010 – 19.03h
OS HOMENS QUE PESCAVAM AS MEMÓRIAS DE UM RIO
Os homens que no rio iam pescar,
Antevendo as memórias, tinham frio;
Varando corpo e alma, um arrepio
Quase os impediria de avançar…
Mas nenhum deles pensava em recuar;
Ansiavam pelos “peixes” desse rio
E os rápidos, rolando ao desafio,
Eram fracos demais pr`a derrubar
Essa vontade férrea, irredutível,
Que os levava a tentar esse impossível
No oculto rio da vida-indispensável
Pois nunca medo algum lhes roubaria
O prémio que esse rio concederia
A quem dele conseguisse esse improvável…
Maria João Brito de Sousa – 23.10.2010 – 14.00h
MINHA LÍNGUA, MEUS POEMAS, MINHA VIDA!
Minha vida tecida, toda ela,
Sobre as hastes de luz destes poemas,
É muito singular; sobram-lhe penas
E juro que é, contudo, muito bela!
Suave e jovial - quase aguarela –,
Deixa-se arrebatar, solta as melenas
E rodopia sobre os mil fonemas
Da Língua Portuguesa, a Musa dela…
Se alguém me separar destes meus versos,
Se o “diabo as tecer” e mos roubar,
Não saberei viver e, se assim for,
Se me surgirem dias tão adversos
Que se me afunde esta ânsia de rimar…
Então… pr`a quê viver, se o resto é dor?
Maria João Brito de Sousa – 22.10.2010 – 20.47h