Maria João Brito de Sousa
PERDI-ME
Perdi-me nos abraços da saudade
Nos passos que me esquecem no caminho
Na escuridão que ensombra de verdade
O que restou do lar que era meu ninho...
Perdi-me nesta noite de ansiedade
Neste tempo desfeito, tão sozinho...
Sentindo a cada passo a realidade
Deste meu mundo triste...que adivinho.
Mas tento inda encontrar essa vontade
De vencer a tristeza que me invade
E luto no final do meu caminho...
Perdi-me nos abraços da saudade
Nesta triste e cruel realidade
Sentindo que por vezes já definho...
Helena Fragoso
ULTRAPASSAGEM
“Perdi-me nos abraços da saudade”,
Mas mesmo que a saudade me faltasse,
Ter-me-ia bastado a liberdade
Pedir-me que fosse eu quem a abraçasse…
“Perdi-me nesta noite de ansiedade”
E embora em minha cama pernoitasse,
Sonhei ser uma escrava que se evade
Das masmorras de fel que outrem criasse…
“Mas tento inda encontrar essa vontade”;
Onde hoje encontro só contrariedade,
Enfrento, dia e noite, o mesmo impasse…
“Perdi-me nos abraços da saudade”
Mas sobra-me esta dura realidade
E a esp`rança de que um sonho me ultrapasse.
Maria João Brito de Sousa – 25.05.2017 – 09.34h
publicado às 12:15
Maria João Brito de Sousa
QUANDO A NOITE CHEGA
Serenamente a noite chega e traz
Um bailado com fitas de luar
Num brando musical que se perfaz
Nos sonhos que se formam num olhar
Se uma sombra dançante, satisfaz
Fantasias que crescem no lugar
Onde o som do silêncio é capaz
De num abraço quente vir beijar
Os lábios que trauteiam as canções
Ao ritmo do bater dos corações
Quando sonho visita o pensamento
E junto com as estrelas e o luar
Há um conjugar perfeito um embalar
Que leva a viajar plo firmamento
MEA
9/05/2017
FINITUDES
“Serenamente a noite chega e traz”
Um pouco de descanso ao torturado
Corpo que já não busca senão paz,
Quando da própria paz se vê privado.
“Se uma sombra dançante o satisfaz”
E devaneia um tanto alucinado,
Será só porque a dor não foi capaz
De lhe apagar um sonho antes sonhado.
“Os lábios que trauteiam as canções”,
Cerram-se agora em estranhas contorções,
Que a dor que quer esquecer não foi vencida
“E junto com as estrelas e o luar”,
Está a dor, sempre pronta pr`a lembrar
Que os sonhos também morrem, como a vida.
Maria João Brito de Sousa – 18.05.2017 – 10.08h
publicado às 10:18
Maria João Brito de Sousa
Mais fundo, neste poço tão sem fundo,
Mergulho a cada dia em que não vivo
E sinto-me, no fundo, um ser cativo
Que vai dizendo adeus à vida, ao mundo.
Perdida da palavra – e nela abundo… -,
De quanta poesia hoje me privo,
Resta-me este mal estranho, consumptivo,
Voraz, perverso, vil, nauseabundo…
E sonhei eu escrever até ao fim,
Quando, afinal, a morte chega assim,
Pé-ante-pé, esmagando a pouco e pouco
Os frutos que medravam no jardim
Que andava a cultivar dentro de mim,
Em vez de, abrupta, desferir-me um soco.
Maria João Brito de Sousa – 17.05.2017 – 11.57h
Imagem - Tela de Oscar F. Bluemner
publicado às 12:29
Maria João Brito de Sousa
Das pontas dos meus dedos já não brotam
Palavras como as que antes me brotavam,
Mas os meus pobres dedos já nem notam
Que a palavra era o chão que antes lavravam…
Cansados e doridos me derrotam
Diante das vitórias que almejavam
E assim me roubam tudo e me amarrotam,
Embora nem sonhando o que estragavam…
Definho nesta extrema dependência,
Eu que sonhei ser livre até ao fim
Dos dias de caminho e de existência,
E se esta caminhada acaba assim,
Que acabe duma vez! Não há paciência
Pr`á estranha que me habita, em vez de mim!
Maria João Brito de Sousa – 10.05.2017 – 13.03h
publicado às 16:31