Maria João Brito de Sousa
(Em verso eneassilábico)
Tenho mãos, tenho pés, tenho braços
Que ergo rumo às fronteiras da vida,
Caminhando e negando os cansaços
Desta estrada de terra batida.
Passa o tempo e devolve-me aos traços
As memórias da estrada vencida
Na cadência sonora dos passos
Pelos becos que o são sem saída.
Tanto beco e ruela já vi,
Tanta estrada galguei, sem parar,
Que, hoje, posso afirmar ser aqui,
Sobre os longes que andei, que corri,
Que os meus passos me irão conquistar
Na batalha de ser quem escolhi.
Maria João Brito de Sousa – 09.05.2013– 17.22h
NOTA - Soneto reformulado a 01.09.2015
publicado às 11:55
Maria João Brito de Sousa
(Soneto em decassílabo heróico)
Naquilo em que acredito, eu acredito!
Na minha pequenez de entendimento,
Sei muito bem que quase nunca hesito
Porque aquilo que sei tem bom sustento
No pouco que já li, de quanto é escrito.
Se contrario alguém, muito o lamento,
Mas não retiro nada ao que foi dito
Pois, crescente de força e de argumento,
A palavra abre em flor, se tem razão,
Florescente de cor, não se abre em vão,
Se afirma o necessário àquele instante
E procura, entre vós, terreno são
Se lança umas sementes pelo chão
E cala a voz, mas deixa eco constante!
Maria João Brito de Sousa – 16.05.2013 – 15.56h
Desenho da série "Desenhos da Prisão" de Álvaro Cunhal. Imagem retirada da net, via Google
publicado às 16:42
Maria João Brito de Sousa
(Soneto em verso eneassilábico)
Sei de um tempo em que as horas sorriam
Transmutando os seus ramos caídos
Pelo peso das flores que nasciam
Das sementes dos cinco sentidos
No reflexo da cor que exibiam
E, ao torná-los em rifles floridos,
Nesse apelo que as flores emitiam,
Davam fruto entre os frutos nascidos.
Sei de um tempo que o dia acordou
De uma noite de medo e cantou
Como as aves que lavram caminhos
No mesmíssimo tempo em que eu sou
Neste pouco de Abril que sobrou
Da voragem de uns tantos, mesquinhos.
Maria João Brito de Sousa – 06.05.2013 – 11.24h
NOTA – Revoltemo-nos, porra!
publicado às 13:33
Maria João Brito de Sousa
(Em verso eneassilábico)
Ai, Soneto esquecido, que voltas,
Que te alheias das dores que me minam
Que te acendes nas loucas revoltas
Que nem deuses, nem mestres te ensinam,
Que te enlaças nas pontas já soltas
Desdobrado em gorjeios que trinam,
Enfrentando, sem medo e sem escoltas
O temor dos que em vão se aproximam.
Ai, Soneto que eu nunca esperei,
Que não sonho e nem sei bem se sei
Se me nasces do espanto, ou das horas,
Mas que exaltas, num mel que olvidei
Nos tormentos da dor que calei,
Quanta voz soltarei, sem demoras…
Maria João Brito de Sousa – 04.05.2013 – 16.26h
Imagem - Desenho de Álvaro Cunhal (Série "Desenhos da Prisão")
publicado às 12:08