Maria João Brito de Sousa
O mundo, sem ter razão,
Tem tanta que eu já pensei
Render-me à contradição
Deste mundo em que ela é lei.
Faltou-me a razão, porém,
A tão estranhas intenções
E às razões que o mundo tem
Só oponho estas razões;
Ao nascer de cada dia
Opõe-se o gesto contrário
Que quebra a monotonia
E passa o pão que se cria
Das mãos do Poeta-Operário
Pr´ás mãos que alguém lhe estendia
Maria João Brito de Sousa - 29.09.2011 - 11.30h
NA FOTOGRAFIA - Manuel Ribeiro de Pavia, 1956
publicado às 15:19
Maria João Brito de Sousa
ALENTEJO
Alentejo das gentes castigadas,
Dos sobreiros reinando nas planuras
E das vozes dolentes, bem timbradas,
Que falam de alegrias, de amarguras…
Alentejo das searas espraiadas
Pl`o trigo inacabável das lonjuras,
Das casas pequeninas, bem caiadas,
Onde, à lareira, o povo queima agruras
Onde a gente se senta nos poiais
E esse tão-pouco dá-nos muito mais
Do que o melhor que o mundo possa dar;
Vontade unida em vozes tão plurais
Faz-nos saber que não será demais
O que homens e mulheres não vão calar
Maria João Brito de Sousa – 04.09.2011 – 15.37h
SONETO DISTINGUIDO, ENTRE OUTROS POEMAS, NO PASSATEMPO "LEMBRANDO O ALENTEJO"
PUBLICADO NO GRUPO "ALENTEJO - SUAS TERRAS - SEU PATRIMÓNIO", NO FACEBOOK
IMAGEM RETIRADA DA INTERNET
publicado às 20:32
Maria João Brito de Sousa
Por Ítaca me fui desencontrando
Da sagrada missão da Poesia.
Se acaso a encontrei, nem nela havia
Tradução pr`á linguagem do meu pranto.
Mal Ítaca abordei, vi-me encalhando
Numa praia inventada e já vazia
Que quanto mais negada, mais crescia
Enredando-me toda no seu manto.
Se algum farol em Ítaca se erguia,
Se, à porta, me pediram senha ou santo
Prá singular viagem que antevia,
Não o posso afirmar... e, no entanto,
Com Ítaca sonhava e redimia
Cada saudade à luz do desencanto.
Maria João Brito de Sousa - 23.09.2011 - 17.40h
publicado às 17:14
Maria João Brito de Sousa
Corre o Tempo! Até parece
Que não tem tempo a perder,
Que foge como quem esquece
Quanto não deve esquecer,
Mas dele, em nós, permanece
Essa vontade de qu`rer
Mudar tudo o que acontece
No que deva acontecer...
Quando o Tempo nos oferece
Tão justa razão de ser,
É bom que a gente se apresse
Pois todo o povo engrandece
Quando retira o Poder
A quem lho não reconhece
Maria João Brito de Sousa - 18.09.2011 - 15.25h
Imagem retirada da internet, via Google
publicado às 14:57
Maria João Brito de Sousa
SONETO DA MARÉ ALTA
*
Por quanto tempo eu não escrevi, poema,
Teu nome, a negro, neste azul sem mar?
Por quanto tempo ousei, sem to explicar,
Deixar que repousasse a minha pena?
*
Mas nesta noite escura a lua acena
Ao poema que em mim quis habitar
E redescubro o vértice lunar
Da velha esfera branca, acesa e plena.
*
Há centelhas de luz sobre os meus dedos
Assim que afloro os íntimos segredos
Dessa alquimia muda e sem origem
*
Que não cuida das dúvidas e medos
Que o mar esconde entre abismos e rochedos
No instante imprevisível da vertigem.
*
Maria João Brito de Sousa – 15.09.2011 – 21.28h
IMAGEM RETIRADA DA INTERNET, VIA GOOGLE
publicado às 21:47
Maria João Brito de Sousa
A amizade não morre facilmente!
Talvez não morra nunca e permaneça
Num canteiro qualquer escavado à pressa
Pelas mãos incansáveis da semente…
Talvez o vento passe e não lamente,
Talvez a terra inteira até a esqueça…
Mas, dela, sobrará uma promessa
Que a torna intemporal e transcendente
Se ela existiu, então não terá fim
Pois ficará latente no jardim
Onde alguém a plantou em tempos idos
E se alguém me disser: – Não é assim!
Responderei: - Não falo só por mim…
Falo por quantos nunca são esquecidos!
Maria João Brito de Sousa – 13.09.2011 – 16.00h
FOTO - Eu e a Nice na varanda da casa do Dafundo, 1954
publicado às 16:22
Maria João Brito de Sousa
Se ontem foi “dia-sorriso”,
Seja hoje o “dia-luta”
E a qualquer filho da puta
Que me julgue sem juízo
Dir-lhe-ei que o que é preciso,
Quando faltam sopa e fruta,
É tomar rédea à labuta
Colmatando o prejuízo!
Ó gentes da minha terra
Que ergueis os cravos da guerra
Aos senhores do capital,
A paz vem-vos da conquista
E todo o que niso invista,
não cede a bem… nem a mal!
Maria João Brito de Sousa -11.09.2011 -16.52h
publicado às 16:52
Maria João Brito de Sousa
Amigo, este nosso medo
É pão servido nas mesas
Dessas humanas fraquezas
A que eu sei que já não cedo!
Não cobiço o teu segredo;
Desfraldei velas acesas
Na mira de outras riquezas
Que durem mais do que um credo…
(lá fora é noite cerrada
e aqui, de luz apagada,
só vejo o que eu quero ver,
se me esqueço de acender
esta vela, tão queimada,
que pouco ilumina… ou nada!)
Maria João Brito de Sousa – 07.09.2011 – 18.54h
publicado às 19:03