Maria João Brito de Sousa
DUNAS
*
Nesses jardins de sílica batida
- monólogos de prata à luz da lua... –,
Choras uma saudade muito tua
Nos rastos que te deixa uma partida.
*
Ante-câmara de alma já esquecida,
Escorrendo pelas dunas de alma nua,
A praia, marinheiro, é dura e crua,
Mas no mar que enfrentaste há sempre vida!
*
Choraste sobre o chão de um mar que inventas
Pois foi na areia-mãe que tu, chorando,
Encontraste o teu rumo, ó marinheiro
*
Sem vela, ó remador das braças lentas;
Quem te dará, do mar, quanto vais dando,
Sem que a maré te cubra, a ti, primeiro?
*
Maria João Brito de Sousa - 30.10.2009 - 15.41h
Imagem retirada da internet
Não, não é este o soneto da Fabrica de Histórias... o soneto para esta semana foi reeditado e data de Fevereiro de 2008.
Gostaria de vos convidar, a todos, para uma palestra sobre SONETO FORMALMENTE CLÁSSICO que irei dar às 14.30h do dia 13 de Novembro no Salão Nobre do Edifício da Cruz Vermelha da Parede. Seria uma agradabilíssima surpresa encontrar-vos por lá!
publicado às 15:41
Maria João Brito de Sousa
http://www.pibvp.org.br/arquivos/imagens/artigos/img_50.jpg">
Trago luas nos bolsos, nas bainhas,
Nas fímbrias mais recônditas do ser
E outras mil que ainda irão nascer
Pr`a compensar mil outras penas minhas.
Hão-de brotar as luas, quais grainhas,
Por toda e qualquer parte onde eu estiver!
De cada lua-nova que crescer
Nascerão luas-cheias, redondinhas...
Hoje eu amo o luar como quem ama
O Mar, a Terra, a Vida e todo o Céu,
Além, muito pr`além do que é visível!
Hoje um quarto-crescente acende a chama
Que a lua, ainda nova, em si escondeu
Enquanto a escuridão lhe foi possível...
NOTA - Soneto inspirado no poema "Uma Lua em Cada Mão" de Lisdália Viegas dos Santos, in http ://ospoetasdaapp.blogs.sapo.pt/72931.html
Imagem retirada da internet
publicado às 12:05
Maria João Brito de Sousa
Nem eu sei, nem tu sabes, nem ninguém
Conhece, de si mesmo, o tal sentido
Que faz valer a pena ter vivido
Quando o que aqui se faz, se faz tão bem.
Trabalha-se, constrói-se e vai-se além
Daquilo que foi feito e concebido
Porque nenhum de nós terá esquecido
A força que, cá dentro, a vida tem.
Construir, ser feliz, ter liberdade
De sonhar como sonha a Criação
De tudo o que existiu e há-de existir;
É essa a verdadeira felicidade
Que move cada ser em gestação
E o único objectivo a perseguir.
"L`Art cèst un combat; dans l`art il faut y mettre sa peau..." Millet citado por Vincent Van Gogh.
publicado às 15:22
Maria João Brito de Sousa
Quem foi que ousou tramar o tal sujeito
Poético e patético, o tal que actua
E que jamais se rende ou compactua
Com actos que o não tornem mais perfeito?
Quem foi que ousou roubar-lhe esse direito
De ser etéreo e branco como a lua,
De ter raiz e caule em cada rua
Onde se desconstrua o que foi feito?
Quem foi que o despojou da glória eterna,
Quem foi que o dissecou de corpo e alma
Até chegar ao âmago de si?
Procuro - e ergo bem alto esta lanterna -
Com toda a lucidez, com toda a calma
Essoutro usurpador que eu nunca vi…
Imagem retirada da internet
publicado às 11:56
Maria João Brito de Sousa
NA DEADLINE PARA http://fabricadehistorias.blogs.sapo.pt/
Não, não sou exactamente eu, conforme a imagem sugere. É mais ou menos o meu Ego sem censura, o que por aí anda à rédea solta e que acaba, sempre, por se manifestar no momento das grandes decisões. Por isso é, como eu e como todos vós, uma personagem. Pormenores? Aqui vão!
Maria Sem Camisa, a sem-dinheiro,,
Passando pela vida ao Deus-dará
Tem fama de ser louca e de ser má
Mas, no fundo, é poeta a tempo inteiro...
Maria vai plantando o seu canteiro
De sementes de si e o que não há
Inventa-o a Maria e tanto dá
Ter pouco se tão rico se é primeiro...
Maria-Sem-Camisa planta ideias
E disso vai colhendo o seu sustento
Sem cuidar da chegada ou da partida...
Os frutos que ela colhe são candeias,
São estrelas a luzir no firmamento
Da órbita em que traça a sua vida...
A SEM CAMISA II
Maria-Sem-Camisa, a sabe-tudo,
Aprendeu a falar c`os animais
E não desdenha nunca saber mais
Pois conhece o que diz o que está mudo...
Maria-Sem-Camisa é, sobretudo,
Uma devota ouvinte dos demais!
Entende o que lhe dizem os pardais,
Brinca com a razão onde eu me iludo...
Maria é destemida e eu nem tanto...
Maria nunca mente! Eu já menti...
Maria é bem mais forte do que eu sou!
Maria é o meu EU despido o manto
Que cobre tudo aquilo que senti
Quando a fraqueza humana germinou...
A SEM CAMISA III
Maria-Sem-Camisa é tão feliz
E passa pela vida tão contente
Que vai contagiando toda a gente
Mesmo sendo loucura o que ela diz!
O Mundo bem tentou! Ela não quis,
Em troca de riquezas, ser prudente
Ou vender-se por honras de regente...
Ficou fiel a essa directriz!
Maria, toda ela, é coração
E é isso que norteia a sua vida...
A glória e a riqueza, não as quer
Nem lhes presta, sequer, muita atenção...
E não lhe importa ser repreendida
Por ser bem mais poeta que mulher!
Maria João Brito de Sousa - 2008
publicado às 16:31
Maria João Brito de Sousa
Procuro a Luz e tudo o que encontrar
Ao longo desses passos que já dei
Será sempre essa luz que procurei
Pela simples razão de a procurar…
Quando a luz é razão p`ra caminhar,
Enquanto caminhar acenderei
A mesma luz que em mim antecipei
No preciso momento de a sonhar.
A luz é como estrada em construção,
É um nunca-acabar de passos dados,
É um nunca-encontrar que frutifica
Na nossa persistência. A condição?
Procurar, no futuro, os mil passados
Desse orbe intemporal que a justifica.
Imagem retirada da internet
Um apelo em http://mumbles.blogs.sapo.pt/ :)
publicado às 11:44
Maria João Brito de Sousa
Nesse “ao longo de mim” que te ofereci
No breve-imenso instante em que fui tua,
Eu, mulher de ninguém, irmã da lua,
Despojei-me de mim p`ra estar em ti.
Foi ao longo de mim que recebi
O que de ti nasceu em mim que, nua,
Calava a solidão absurda e crua
Das horas de cantar que então perdi.
Tu, que ao longo de mim nunca encontraste
Aquilo que “era” em mim pr`além de mim
E que assim te perdeste do meu eu,
Vê que, ao longo de mim, também mudaste
E se não me encontraste até ao fim
Foi decerto por quereres um fim só teu…
Imagem - "Les Racines du 20éme Siécle"
Maria joão Brito de Sousa
publicado às 11:22
Maria João Brito de Sousa
Hei-de cantar até que a voz me morra
E, se a voz forem mãos, até que abertas
Se me afoguem num mar de descobertas
Sem que alguém me descubra e me socorra.
Hei-de cantar tão alto e tantas vezes,
Tanta paixão porei neste meu canto
Que hei-de encontrar quem ria ou fique em pranto
De ouvir cantar, sorrindo, os meus revezes.
Depois, quando esta voz se me calar,
Quando chegar o tempo da partida,
Quando não mais se ouvir uma só nota,
Ficarão as palavras que eu cantar
Nessa continuação da minha vida
Que teima em desmentir essa derrota
Maria João Brito de Sousa - 20.01.2009
publicado às 11:54
Maria João Brito de Sousa
A CONSULTA HOSPITALAR I
É neste espaço amorfo em que, sentada,
Aguardo uma consulta que me espera
Que a doença piora... quem me dera
Não ter doença alguma, não ter nada!
Aqui fico pior! Muito pior
Do que o mal que já estava antes de vir
Porque nada me impede de sentir,
Cada vez mais intensa a minha dor!
A esmola que pedi - porque eu pedi
Dinheiro pr`a me fazer transportar -
Faz-me peso demais, torna-me inútil...
Quem me dera poder não estar aqui!
Tão só pudesse eu, já, daqui voar,
Ir fazer qualquer coisa menos fútil!
II
Nesta infinita espera, quantas horas
Se passam num crescendo de impaciência...
Afinal eu sei bem que nem a ciência
Pode justificar-me estas demoras...
Para quê tanto vai-vem se não há cura
Para um cansaço tão insidioso?
Se o mal que aqui me traz é tão p`rigoso
E a vida que me espera pouco dura...
Nesta infinita espera em que adoeço
Um pouco mais e mais cada segundo,
Em que gasto os tostões que nunca tenho,
É segundo a segundo que eu me meço
No quase desespero em que me afundo
De cada vez que cedo e que aqui venho...
III
Oiço, por fim, chamar pelo meu nome!
Levanto-me num pulo, exulto, corro!
Não será desta vez que eu aqui morro
Não sei se da doença ou se de fome...
Boa tarde, doutor! Melhor estaria
Se não fossem as horas que esperei
E os muitos, muitos euros que gastei
Para vir à consulta neste dia...
O médico é simpático e prestável,
Também se ri de mim, o "jogo" pega
E a consulta decorre entre sorrisos...
Que raio de doença tão instável!
Que estúpidas partidas ela prega!
Exames - muitos mais! - serão precisos...
A brincar, a brincar...
publicado às 16:23
Maria João Brito de Sousa
Eu moro numa rua que o não é...
Era uma vez... e a história vai crescendo
Nessa rua que o era nunca o sendo
E onde só pode entrar quem for a pé...
Cheira à terra onde crescem as palmeiras,
Onde as flores pequeninas, quase a medo,
Vêm contar-me, à noite, o seu segredo
Sobre as plantas maiores, mais altaneiras.
No passeio empedrado, uma formiga
Acrescenta ao encanto dessa rua
A sua persistência inabalável.
Num breve olhar não há ninguém que diga
Que há, por lá, quem ostente, de alma nua,
Aquilo que em si há de inevitável...
Escrito, agorinha mesmo, para
http://fabricadehistorias.blogs.sapo.pt/ :)
NOTA - Fiz uma pequena alteração nos dois últimos versos da segunda estrofe, no sentido de manter o decassílabo heróico.
publicado às 11:28
Maria João Brito de Sousa
Aquele aspecto estranho e desconforme,
Aquele face magra e enrugada,
Aquele rictus de quem vive enjoada
Da vida que parece sempre enorme…
Aquelas mãos de dedos calejados,
Retorcidos do muito que fizeram,
Os olhos afundados que lhe deram
Os dias e as noites descuidados.
Aquele estar ali e nunca estar
Aonde o corpo fica a descansar,
Porque a mente descansa noutro espaço,
Aquela imprecisão de só sonhar,
Aquela estranha forma de falar,
De ser a própria voz do seu cansaço.
Imagem - Tela de Henry Matisse retirada da internet
publicado às 14:38
Maria João Brito de Sousa
Que imensos, improváveis oceanos
De monstros engolindo os inocentes
Entre hediondas fauces já sem dentes
Dos edifícios-berço dos humanos…
As cidades dos bairros mais urbanos
Onde a vida concentra os mais prudentes
Castelos verticais e ascendentes
Crescendo mais e mais todos os anos,
São, no entanto, espaços sociais
Que abrigam, que nos chamam, nos aquecem,
Que não iremos nunca dispensar.
Gregários, como tantos animais,
Somos aqueles que os erguem e que os tecem…
Os próprios construtores do nosso lar.
NOTA - Este soneto - um dos que me nasceram durante o passado fim de semana - veio , no verso final, mesmo a propósito de uma campanha que é mais do que meritória:
LIMPAR PORTUGAL
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Imagem retirada do blog O Fio de Ariadne
http://zildacardoso.blogs.sapo.pt/
publicado às 10:59