Maria João Brito de Sousa
A tua face hermética e segura,
O teu vulto elegante e decidido…
Desculpa ter brincado e ter-me rido,
Ter-te feito passar por tal figura!
Um dia, no passado, - que loucura!
Quando te via ao longe e, distraído,
Passavas e ficavas entretido
A olhar-me sem ponta de ternura…
Ai, esse tempo de menina e moça!
Era olhar-te e pasmar, sonhar contigo
Num somatório absurdo de promessas,
Mas hoje é só de mim que faço troça
E tu, se acaso foste meu amigo,
Podes troçar também, antes que esqueças.
Maria João Brito de Sousa - 13.08.2009
Imagem retirada da internet
publicado às 11:05
Maria João Brito de Sousa
Esconde-se, desvelada em mil segredos…
Depois, se a lua-cheia a vem beijar,
Revela-se no céu, põe-se a brilhar,
Livre dos infundados, loucos medos.
Tento agarrá-la, então, entre os meus dedos
E ela foge de mim, sempre a brincar
Por entre os brancos raios de luar,
Por cima do mar bravo e dos rochedos…
Ninguém jamais a viu, ninguém a teve,
Ninguém sabe dizer de que cor é,
Qual é a sua forma, o que contém…
Passa por mim e eu quero que me leve
Até ao limiar da minha fé
E ainda, depois disso, um pouco além!
Imagem retirada da internet
publicado às 11:46
Maria João Brito de Sousa
Luar de Lua-nova em que descansa
Um homem que perdeu sonhos de mundo.
Debruçou-se e caiu. Lá foi ao fundo
Sem ter vara de pesca, rede ou lança.
Foi girando em espiral. Que estranha dança
Dançou ao mergulhar no mar profundo!
Não sabia estar sujo e estava imundo,
Coberto de desonra e de abastança.
Depois sentiu-se bem, ficou lavado
De impurezas reais e do pecado
De ter sido banal, inútil, bruto.
Eternidades mil terão passado
E esse homem voltou muito mudado,
Despido do seu estranho, obsceno luto.
*
Maria João Brito de Sousa - Agosto, 2009
publicado às 12:01
Maria João Brito de Sousa
Homem que dedicaste a vida inteira
Ao sorriso, ao sabor da gargalhada,
Recebe esta homenagem declamada
Que aqui te deixo, à hora derradeira.
Foi rica, a tua humana sementeira!
Se contigo não levas mesmo nada
Serás mais rico. Foi-te consagrada
A honra mais sublime e verdadeira…
Jamais te esquecerão! Jamais serás
Uma coisa passada e já sem uso
Que alguém possa dizer que não faz falta.
Que Deus te tenha agora em sua paz!
P`ra ti estas palavras que conduzo
Entre os mais que te viram na Ribalta…
Imagem retirada da internet
publicado às 14:04
Maria João Brito de Sousa
Sonhou com diamantes, ametistas
E ouro do mais fino e do mais puro...
Mil coisas que não quero nem procuro
Como é próprio da vida dos artistas.
Ele, porém, purista entre os puristas,
De trato pouco afável, rosto duro,
Quis mostrar-se indif`rente... até seguro
De estar acima de outros elitistas.
Que sonhos tão banais esse homem tinha...
Por fim lá fez vingar os sonhos de ouro
E acabou por morrer deveras rico!
Quanto a mim... tenho sonhos de avezinha!
Nunca almejei, sequer, um tal tesouro
E vou enriquecendo enquanto fico...
Fotografia de Nuno Rico, retirada da internet
publicado às 11:28
Maria João Brito de Sousa
Sou caixa de Pandora feita à pressa
Na mesa de madeira sem raiz,
Apenas enfeitada com verniz
Construída entre dúvida e promessa…
Caixinha toda feita peça a peça
Dessa madeira velha que eu não quis
Mas que volta a tornar-me tão feliz
Assim que a brincadeira recomeça…
Caixinha da surpresa… presa… presa
Ao recomeço, ao tempo pendular,
A esse eternizar de uma criança
Que nunca poderá sair ilesa
Do que a caixinha um dia revelar
E de um jogo que cansa… cansa… cansa…
Imagem retirada da internet
publicado às 14:08
Maria João Brito de Sousa
Era azul, como o mar… ou mais ainda!
Suave e tão lento quanto a lentidão,
Desenhava-se, ao fundo, um vulto vão
E paisagem de fundo era tão linda…
A outra veio vê-lo. Era bem-vinda.
Destacava-se, enfim, da multidão
Como se fosse a própria solidão.
Aquela que, ao chegar, nunca se finda…
Era melhor assim! Tanto melhor
Se desfrutava, assim, da própria cor,
Se sabia ser lá que pertencia…
E, sobretudo, não sentia dor
Nem jamais encontrara tanto amor
Como encontrou na luz que então se via.
Imagem retirada da internet
publicado às 11:00
Maria João Brito de Sousa
Decretas-te imortal entre os mortais,
Dominas todo o mundo e, de repente,
Exaltas o pior de toda a gente,
Destróis toda a harmonia e pedes mais?!
Se te crês bem melhor que os animais
Que sobrevivem inocentemente,
Então, ou és vaidoso, ou és demente
E despresas, da Vida, os seus sinais...
Somos todos irmãos... até a erva
Que cresce nos passeios que pisamos
É também nossa irmã, parte de nós.
Nem tu és amo, nem eu serei serva,
Somos, tão só, aquilo que sonhamos
E os nossos sonhos são a nossa voz.
Maria João Brito de Sousa - Agosto, 2009
PALAVRAS DE "PEPE" - Boa tarde para todos vós! Eu sou aquela avezinha que vocês podem ver na fotografia que ilustra o soneto. Tenho muito poucos dias de vida e, quis o destino que eu caísse do ninho que os meus pais construíram para mim. Não sou Lugre que se dê por vencido quando o momento parece mais adverso e piei o mais alto que pude até que passou uma Humana e me recolheu. Neste momento estou em casa dela e já consegui comer uma boa dose de bolhacha Maria amolecida com água. Não posso garantir-vos que vá sobreviver. Sou uma cria de Lugre muito, muito pequenina... mas uma coisa vos posso garantir: tentarei enquanto puder! E, tanto quanto eu pude intuir, a Humana que
me acudiu e alimentou também não desistirá!
publicado às 15:24
Maria João Brito de Sousa
Saberás do vento que sopra na areia?
Sabes do calor nessas rochas salgadas
Que, apesar de tudo, vão sendo habitadas?
Já viste as mudanças quando há lua cheia?
Já viste tritões? Conheceste a sereia
Que chama por ti, dessas grutas sagradas,
Nos dias incertos, às horas marcadas,
Que o tempo decreta e o acaso norteia?
Já te imaginaste dif`rente e, contudo,
Igual a ti mesmo nos sonhos que inventas,
Se a tanto chegaste por tua vontade
Ou és indif´rente, dizes: - Eu não mudo!,
Não sabes voar, nada vês ou nem tentas
Saber até onde chega a liberdade?
NOTA – Soneto Alexandrino
publicado às 14:42