Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores.
...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
Peço a todos os meus amigos que cliquem no link e divulguem ou dêem a sua sugestão, se forem conhecedores de algo que possa contribuir para o aparecimento de um jovem cientista português desaparecido em Berlim.
Cansada e um bocadinho "pitosga" (ainda não encontrei os óculos que perdi esta manhã, sem sair de casa...) senti que não podia deixar de assinalar o pimeiro (isto é que é esperança!) aniversário do poetaporkedeusker... lá me nasceu este soneto, directamente nas teclas.. porque este blog foi criado a pensar no senhor Soneto!
Provavelmente não irei - pontualmente - ter a habitual assiduidade que sempre dediquei aos blogs que faziam o favor de visitar o Poeta... provavelmente vou passar uns diazitos mais ou menos "parada", sem que vos possa garantir a postagem diária... provavelmente...
Hoje nasceu este soneto... amanhã tentarei, mas estou num período de grande cansaço físico e mental... que eu sei que será isso mesmo; um período! Não sei quanto tempo irá durar... confesso que tenho "fugido" às consultas hospitalares e até às do Centro de saúde... aos exames de rotina também...bem, penso que estou a precisar de descanso e de uma "revisão geral"... mas continuarei sempre a tentar vir até ao 2008 para uma partiha do que a minha criatividade - visivelmente diminuída pelo cansaço e por uma série de outras pequenas coisas do dia a dia - possa produzir.
Decidira não morrer ainda. Ninguém lhe deu muito crédito. Afinal coubera-lhe a sorte de nascer com quatro patas e locomover-se na horizontal dos caminhos, embora com uma graciosidade que fazia inveja a muito boa gente. Mas com ou sem alheios créditos, decidira não morrer ainda.
E depois havia a Estrela. Aquela que mais parecia um cometa porque desenhava, no seu rasto, a exactíssima fronteira onde a Realidade se encontra com a Ficção.
Nesse momento pouco lhe interessava que que outros a conhecessem. Bastava-lhe partilhá-la com aquela humana que com ela coabitava.
Não fora de ânimo leve que tomara a decisão e, com o distanciamento dos dias e anos, parecia-lhe evidente que jamais a teria tomado se não fosse a tal Estrela...
Sentia e, naquele imenso universo de sensações que compunham a parte não palpável mas sensível do seu pequeno ser, surgiu, nítida, a memória de ter cumprido o seu papel de mãe. Não-biológica, é facto, mas a Estrela dos Acasos trouxera até si um filhote de alheia paridura do qual cuidara como se seu fora. Recordava-o - à sua maneira, mas recordava! - o filhote que lhe chegara cor-de-fantasma, de olhos ainda fechados às alegrias da vida, e que viera depois a desabrochar em Siamês. Mas esses pormenores pouco ou nada lhe interessavam. Fora "o seu menino lindo" durante o espaço de tempo que medeia entre o nascimento e uma adolescência que lhe conferira autonomia, força e beleza. Certo é que o aleitamento ficara por conta da outra. Da que tinha duas pernas e caminhava na perpendicular dos seus passos, mas o restante trabalho fora muitíssimo seu.
Claro que houvera períodos menos fáceis, como em todos os percursos dos sensientes. Certos momentos em que a saúde teimara em fugir-lhe com a velocidade da nortada em dia de temporal. Certos momentos em que se sentira francamente mal e invariavelmente recolhera ao seu esconderijo debaixo da cama. Estivera, mais do que uma vez, á beira da desistência... mas era teimosa. Uma autêntica cópia felina da humana que lhe dera abrigo. E havia a Estrela. Aquela que, no último momento, brilhava sempre no ponto exacto onde se cruzam Realidade e Ficção.
Olhou-se. Ou melhor, sentiu-se. Estava fraca e vivera já mais de sete anos humanos. A maldita doença mais uma vez a atingia com o duro golpe das coisas que não sentem.
Além, um pouco além, no tal ponto onde não havia ainda chegado, a Estrela de sempre brilhava ainda. A vida apeteceu-lhe.
Sacudiu-se, deitou-se e confirmou a sua decisão de não morrer ainda.
Escrito no veterinário e nascido de uma colisão frontal da Realidade com a Ficção para a