Maria João Brito de Sousa
É urgente este estar dentro de mim!
Impõe-se ir defendendo estas fronteiras
De quem tentar entrar de mil maneiras,
Com cavalos-de-Tróia... ou de marfim.
Meu jogo de xadrez não terá fim!
Erguem-se as duas torres (des)inteiras
E nenhum dos peões fará asneiras.
(impávido, o relógio faz: tlim-tlim)
Numa "jogada-mestra", eu contra ataco
- contra esta maquineta, sou rainha... -
E... zás!, dou xeque-mate ao invasor!
O tabuleiro é velho, um pobre caco,
Mas... a vitória, essa é toda minha
Porque, a este xadrez, sei-o de cor!
Maria João Brito de Sousa - 31.05.2008 - 11.55h
Nota - Soneto reformulado a 18.10.2015
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Imagem retirada do blog soupoeluz.blogspot.com
publicado às 11:55
Maria João Brito de Sousa
Um abraço do mar é para a vida,
Tem uma eternidade pela frente
E, embora fugaz, é permanente
Pois quando o mar abraça, é de partida.
Cuidado, pois se estás comprometida,
Por muito que esse abraço a ti te tente,
Há coisas que uma vida não consente
E mal o mar abraças estás despedida.
Cuidado! Tem cuidado porque mente
O mar que te encantou! Ficas perdida
Nesse (a)braço de mar, eternamente.
Bem sei que o mar não te é indiferente
Pois, só de o vislumbrar, tu, comovida,
Choraste como chora tanta gente.
Maria João Brito de Sousa - 30.05.2008 - 14.10h
Tela de Ki
publicado às 14:10
Maria João Brito de Sousa
Meus amigos,
Não encontro palavras nem sequer para vos explicar por que razão vos não vou hoje visitar a todos... vai soar a desculpa "esfarrapada", vai soar a "coisa que já deveria estar feita"... mas a verdade é que ainda não está e "impõe-se-me um discurso urgentemente!"...
Para todos vós fica o convite:
Amanhã o poetaporkedeusker vai ser homenageado na Galeria Municipal Verney em Oeiras. Quem puder comparecer será muitíssimo bem vindo! O evento terá lugar às 16.00 h de amanhã, dia 29.05.08, na referida Galeria, sita na Rua Cândido dos Reis, 90-90A em Oeiras e inserir-se-à no âmbito das "Quintas Feiras Culturais" promovidas por aquela instituição e que, neste dia, será dedicado à Associação Portuguesa de Poetas, da qual sou membro e que teve a bondade de escolher a minha humílima pessoa para esta homenagem.
Deixo-vos com um soneto "brincalhão", que me nasceu quando fiquei sem espaço no disco rígido, e com a promessa de voltar na próxima 6ª feira com os sonetos que Deus quiser...
Um grande abraço de cometa para todos vós!
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SEM ESPAÇO NO DISCO RÍGIDO...
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"Autofagia computorizada"
É um processo estranho e nunca visto!
Pouco posso dizer acerca disto
Excepto que fiquei mesmo impressionada
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Tantos Gigas e Megas se perderam
Neste "coraçãozito digital"
Que o IP começou a "bater mal"
E todas as luzinhas se acenderam
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De coração nas mãos fiquei então
Pois perdi toda a comunicação,
Deixei de ser poeta a quem Deus quer
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E mesmo após a desfragmentação
O disco continua a dizer: - "Não!"...
Mas sei que hei-de voltar, se Deus quiser!
Maria João Brito de Sousa - 28.05.2008 - 13.02h
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publicado às 13:02
Maria João Brito de Sousa
O DISCURSO
*
Impõe-se-me um discurso, urgentemente!
Aquilo que eu disser será escutado
E há que ter, como tal, muito cuidado,
Não se torne o discurso independente
*
O discurso é, por vezes, imprudente:
Nós damos-lhe a função de ser recado
E o tonto, faz-se ambíguo e torna errado
Quanto sendo pensado era inocente,
*
Pois diz-se e desdiz logo o que foi dito,
Mostra vontade própria, é traiçoeiro,
E às vezes, transformado em ditador,
*
Desmente tudo aquilo que foi escrito,
Ilude o nosso ouvido o tempo inteiro
E destrói a carreira ao orador.
*
Maria João Brito de Sousa - 20.05.2008
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Na foto - Pormenor de "Émile Zola" de Édouard Manet, 1868.
Museu d`Orsay - Paris
publicado às 14:24
Maria João Brito de Sousa
A MULHER DA LUA
*
Ouvi agora, senhores,
A história verdadeira
E muito singular
Da mulher que vivia
Num quarto de lua
Com vista para o mar
E usava estrelas cadentes
Em jeito de rosinhas-de-toucar
*
Da que fez o voto
De nunca desamar
E só pedia à vida
A etérea transparência do luar...
*
A saga começa
Dois mil anos antes do nunca-acabar
Com a história da mulher
Que pariu o menino que havia de voltar
*
Da que fugiu para o deserto,
Não por ter medo do dragão,
Mas pr`a poder chorar,
Da que continua ajoelhada
A procurar ,
Muda estátua de sal
Ou lava de vulcão depois de resfriar
*
Aquela a quem coube o destino
De sete noites,
Sobre cada sete noites,
Tresnoitar,
E das lágrimas choradas
Fez brotar
Um oásis na aridez lunar
*
Da que mataria a sede
Da alma mais sedenta
Que a soubesse encontrar,
Da que espera,
Sem mesmo acreditar,
O dia,
Dia a dia mais incerto
Em que o menino volte
Para a dessedentar.
*
Mª João Brito de Sousa
1993
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publicado às 08:55
Maria João Brito de Sousa
HUMANA CONDIÇÃO
*
Humana lucidez, quem te procura
Nas calmas profundezas da razão?
Que antiga noite maga, sábia e escura
Renova a tua estranha condição?
*
Ao depores uma flor em Shanidar,
Que sonhos modulavam tua dor?
A Lucy, quem a soube consolar?
Que medos te assolavam no sol-pôr?
*
Em Stonehenge, quem te deu alento?
Machu Picchu, que sonho te inspirou?
Que chama arde nas grutas de Altamira?
*
Se tão sublime sopro de talento
Em Kéops e Gizé te abençoou,
A Arte é a razão da tua vida!
*
Maria João Brito de Sousa - 18.05.2008 - 12.04h
publicado às 12:04
Maria João Brito de Sousa
Um gato é um poema que Deus fez
Num dia em que, sentindo-se feliz,
Quis ofertar ao mundo um aprendiz
Da felicidade eterna e sem porquês
Mas, depois de o criar, pensou, talvez;
- Fosse o homem tal qual como eu o quis,
Assumindo-se assim, como eu o fiz,
Teria, também ele, estas mercês...
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Viver, amar a vida e procriar!
Ser curioso, ir indo à descoberta
De tudo o que há em volta e mais além...
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Ser tanto e ainda assim poder sonhar!
Ó alma! Ser-se assim, pura e liberta
Desta insatisfação que um homem tem...
Maria João Brito de Sousa - 17.05,2008 - 11.42h :)
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publicado às 11:42
Maria João Brito de Sousa
publicado às 11:37
Maria João Brito de Sousa
Dói-me este orgulho incerto e desmedido
E dói-me não ganhar... o que fazer?
Nestas andanças do ganhar/perder
Doeu-me, desta vez, o ter perdido...
Mas dói-me muito mais ter consentido
Que um outro alguém me desse o seu par`cer
Porque pior que a perda é não saber
Se o livro foi, sequer, aceite e lido...
Pelouro de grafismos tão perfeitos
Que eu já imaginava entre os eleitos
E que ousei confiar a alheias mãos...
Agora dói-me o ego e nunca mais
Julgarei ser melhor do que os demais,
Me entregarei assim a anseios vãos...
Ao "Pelouro dos Perfeitos Grafismos", porque é a perder que mais se aprende...
publicado às 12:48
Maria João Brito de Sousa
Serei sempre uma ilha de paixões
Rodeada de mundo a toda a volta...
Deserta por decreto da revolta
Que me encheu de lagoas e vulcões...
Em mim os animais são aos milhões,
Correndo como o verso, à rédea solta,
Pois por cima da lava que me solda
Lavrei um verde manto de ilusões
E neste Paraíso em que me dou,
Entre ervas, embondeiros, brancos lírios,
Sou Arca de Noé de âncora presa!
Talvez alguém duvide do que sou,
Talvez seja mais um dos meus delírios,
Talvez seja uma forma de defesa...
Maria João Brito de Sousa - 2008
Um dos poemas que foi a concurso no Prémio de Poesia Palavra Ibérica.
Na Imagem - Uma tela de KI - trapezio.blogs.sapo.pt
publicado às 11:17
Maria João Brito de Sousa
CATIVEIRO *
Como meridiano-de-mulher
Na divisão do Ser em hemisférios,
Sou o imponderável dos mistérios
Que explica o seu mistério a quem quiser! *
Falo a quem me entender, a quem souber
Dentro de si achar outros impérios
Já fartos das prisões dos cemitérios
A que a futilidade os quis prender *
Falar-vos-ei de um tempo-antes-do-tempo
No modo dos futuros-infinitos
Que ainda estão por vir no mundo inteiro *
E de um maior, mais justo entendimento,
Que tudo o que se ler nestes escritos
Nasceu do que aprendi no cativeiro. *
Maria João Brito de Sousa
14.05.2008 - 02.53h ***
publicado às 02:53
Maria João Brito de Sousa
Deu-me Deus estas mãos de porcelana
Que em breve irão partir-se e ser-me inúteis...
Não as hei-de gastar em coisas fúteis,
Às mãos que são fugazes como a chama...
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Ponho nas minhas mãos o coração.
Nelas me ponho inteira e me vou dando
E nelas me darei sem saber quando
Deixarão de cumprir essa função...
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São, minhas mãos, meu único instrumento,
A gravação do "eu" sobre o papel
De um caderninho azul que alguém me deu
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E é nesta missão que reeinvento
A minha eternidade e esqueço o fel
Da dor que nestas mãos já se acendeu...
Maria João Brito de Sousa - 12.05.2008 - 13.17h
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À Ki.
publicado às 13:17