SÁBADO, DOMINGO E SEGUNDA FEIRA IV
A FERRAMENTA
Se eu cresci a saber que duvidar
É a mais produtiva ferramenta
- embora dê trabalho e seja lenta… -
Porque me falas tu de acreditar
Como se fosse a forma de criar
Que tudo vai gerar, tudo sustenta?
A dúvida é um bem que me acalenta
E me ensinou as artes de voar.
Sem dúvida que a dúvida é, por vezes,
O ponto de partida de uma fuga,
Mas fabrica, pra nós, sabedoria.
Duvidei tanto, ao longo destes meses,
Que vi acrescentada, ruga a ruga,
A lavra do que eu não compreendia.
Maria João Brito de Sousa - Janeiro 2010
ONÍRICO
Sereias, verdes ilhas, longos arcos
Numa paisagem onírica, tão calma
Que nos vai refrescando corpo e alma
Onde, antes, os modelos eram parcos.
Oníricas divisas, quais medalhas
Dessoutra metafísica palpável
Que, muitas vezes, pode ser viável
No mundo do real, ali, “ao calhas”…
Naquelas verdes ilhas que sonhei,
Que química indizível partilhei
Com aquilo que existe e me rodeia?
Talvez, em vez de química, “alquimia”,
Que o sonho traz-me sempre essa magia
E é, para mim, suprema panaceia!
Maria João Brito de Sousa - Janeiro 2010
SOLTAR AS AMARRAS
Soltai-vos dedos quando, descontentes,
Vos crispais sobre as palmas destas mãos.
Soltai-vos e escrevei poemas vãos
Sobre o riso e as lágrimas das gentes!
Soltai-vos e escrevei sonetos leves,
Fluentes como as águas de mil fontes!
Soltai-vos e lançai serenas pontes
Como se sempre houvésseis sido breves.
E, mesmo quando presos e crispados,
Não vos negueis, ó, dedos encurvados,
Não vos deixeis vencer por uma dor!
Sede sempre rebeldes, trabalhai!
Escrevei sem que solteis, sequer, um “ai”,
Porquanto trabalhais por puro amor.
Maria João Brito de Sousa - Janeiro 2010
IMAGEM RETIRADA DA INTERNET