SÁBADO, DOMINGO E SEGUNDA FEIRA III
UM POETA NA ESQUINA
Poeta numa esquina, sem alento,
Que não choras nem pedes a quem passa
A esmola da atenção ou essa graça
Do merecido pão do teu sustento
*
As asas que perdeste... o teu talento
Que o mundo destruiu, como uma traça
Que devorando inteiro te desfaça
E te não deixe mais que desalento
*
E, cruelmente alheia, a populaça
No seu vaivém, correndo contra o vento,
Não percebe, sequer, quanta desgraça
*
Te prende àquela esquina, desatento
Das coisas deste mundo e desta raça
Que assim te condenou não te entendendo.
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Mª João Brito de Sousa
Dezembro, 2009
MISTÉRIO
*
Que mistério em teu corpo se engendrou,
Maria, se não foste de ninguém?
Que mistério, Maria, te fez mãe
De um menino que tanto nos marcou?
*
Que Maria foi essa que alcançou
Honra tão grande e tão imenso bem?
Maria e só Maria foi alguém
Em quem o próprio Espírito encarnou?
*
Mas terá sido assim que aconteceu?
Terá sido o menino que nasceu
Igual a todos nós, nascido em dor?
*
Porque se assim não foi… quem serei eu
Para inquirir sobre quem já morreu
E em tudo vive ainda em puro amor?
*
Mª João Brito de Sousa
Dezembro, 2009
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QUE PENA...
*
Que pena, meu amor! Eu sei lá quando
As hostes da vontade irão render-se
E o corpo, desistente, converter-se
A escravo, meu amor, do teu comando
*
Eu sei lá, meu amor… mas juraria
Que a linha que percorro, vertical,
Não há-de quebrar nunca… este ideal
É jamais desistir de uma ousadia!
*
Tantas vidas na vida! `Inda há pouquinho
Percorria, na estrada, outro caminho
E, no palco, um papel numa outra cena…
*
Agora, bem mais longe e tão mais perto,
Termino estes acordes do concerto
E, às vezes, sinto até alguma pena...
*
Mª João Brito de Sousa
Dezembro, 2009
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